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Olhar lacrimoso

2021. Na primeira semana do ano um tio querido ingressou no caminho da luta contra a Covid. Na semana seguinte, meu irmão gêmeo estava com a mesma patologia. Meu tio faleceu em fevereiro; meu irmão, no mês de março. No meio de abril perdi meu sogro; e nesse mesmo mês, um primo querido do meu Pai. Homens bons – todos nos ensinaram o sabor da vida, e o sublime valor do bem e do amor. Em maio vivi e vivenciei os danos da doença no meu organismo; com sintomas mais leves, amparado pela ajuda vigilante de colegas e familiares, e pelos feitos da valiosa vacina. Em julho perdi um grandioso e inteligente amigo, com quem sempre partilhava bons saberes. No fim desse mês voltei a fazer minhas consultas e cirurgias, guiado pela companhia do lancinante olhar lacrimoso. Mesmo no solidário acalento, e no afago ou maltrato oferecidos por esse momento, louvemos a vida.

Todos os dias banho o meu pensar com lágrimas de saudade, e estou a meditar sobre o sentir dos outros; que também me procuram para refrescar sua inquietante capacidade de aceitar e ressignificar perdas. Entre a fresta de um pensamento e outro vem a lembrança viva redicivante, e essa coisa crível borbulhante, que não sei explicar ou contornar com exatidão. “Quando eu não tinha o olhar lacrimoso que hoje eu trago e tenho…”; quando adoçava o meu pranto, no regaço vindo do meu gêmeo. A doce ilusão do existir nos faz continuar e nos oferece o desejo, a esperança e a vontade de seguir avante. “Eu vou voltar, fique tranquilo” – o que aconteceu refresca no meu sentir esse desejo e a certeza que isso acontecerá. Enalteçamos o valor da amizade, da alegria, do amor, do humor e da harmonia mesmo apesar dos pesares do peso da perda.

Um pingo caindo no chão da decisão e do despertar. O que virá? O mar de lamento ou choro, ainda que invisível aos olhos alheio, não é suficiente para abrandar o sentir de muitos, que sentem um sentir sentimentalmente centrado no enigma do momento, relacionado às perdas que vivenciam. Temos que nos colocar na posição do outro e, em nós, tentar filtrar a solução que a solidão e a persistência do sofrer causa ocasionalmente. Aí também, é onde se esconde o lenço refrescante desse olhar lacrimoso; acento ou alento para todos; lento processo do despertar. Enobreçamos os seres alicerces, que nos impulsionam na estrada do existir; e aprendamos o efeito do olhar lacrimoso.

 

Coluna Momento de Reflexão é publicada

as segundas-feiras com a assinatura do

Dr. Russen Moreira Conrado

Cirurgião Plástico e psicoterapeuta CRM: 5255-CE

RQE Nº: 1777 – RQE Nº: 1811

 

 

 

 

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