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É (finalmente) a hora de parar de chamar isso de pandemia? Especialistas respondem.

Já se passaram 3 anos desde que a Organização Mundial da Saúde declarou oficialmente a emergência do COVID-19, como uma pandemia. Agora, com os sistemas de saúde não mais tão sobrecarregados, e mais de um ano sem variantes surpreendentes, muitos especialistas em doenças infecciosas estão declarando uma mudança na crise de pandemia para endemia.

Endemia, em termos gerais, significa que o vírus e seus padrões são previsíveis e estáveis em regiões designadas. Mas nem todos os especialistas concordam que já chegamos lá.

O Dr. Eric Topol, diretor do Scripps Research Translational Institute em La Jolla, na California, disse que é hora de chamar a COVID-19 de endêmica.

Ele escreveu em seu Substack Ground Truth, que todas as indicações, desde a vigilância genômica do vírus, passando pela análise de águas residuais, e indo até os resultados clínicos que ainda estão sendo rastreados, apontam para uma nova realidade: “Nós finalmente entramos em uma fase endêmica”.

Nenhuma nova variante do SARS-CoV-2 surgiu ainda com uma vantagem de crescimento sobre a XBB.1.5, que é a dominante em grande parte do mundo, ou XBB.1.9.1, escreveu Topol.

Mas ele tem duas preocupações. Um é o número de hospitalizações e mortes diárias, pairando perto de 26.000 e 350, respectivamente, de acordo com o rastreador COVID do The New York Times. Isso é muito mais do que o número diário de mortes em uma temporada de gripe severa. “Isso está muito além do dobro de onde estávamos em junho de 2021”, escreveu ele.

A segunda preocupação de Topol, é a chance de que uma nova família de vírus possa evoluir ainda mais infecciosa ou letal, ou ambas, do que as recentes variantes da Omicron.

Três razões para chamá-la de fase endêmica

O Dr. William Schaffner, especialista em doenças infecciosas do Vanderbilt University Medical Center em Nashville, também está no campo da endemia por três razões.

Primeiro, ele disse: “Temos uma imunidade populacional muito alta. Não estamos mais vendo grandes surtos, mas estamos vendo uma transmissão latente contínua”.

Além disso, embora observando os números preocupantes de mortes e hospitalizações diárias, Schaffner disse: “não está mais causando crises na saúde ou, além disso, na comunidade econômica e socialmente”.

“Número três, as variantes que causam doenças atualmente são a Omicron e suas descendentes, as subvariantes da Omicron. E seja por causa da imunidade da população ou porque são inerentemente menos virulentas, elas estão causando doenças mais brandas”, disse Schaffner.

A mudança das normas sociais também é um sinal de que os EUA estão seguindo em frente, disse ele. “Olhe ao redor. As pessoas estão se comportando endemicamente.” Elas estão tirando as máscaras, se reunindo em espaços lotados e dispensando vacinas adicionais, “o que implica uma certa tolerância a essa infecção. Toleramos a gripe”, observou ele.

Schaffner disse que limitaria seu escopo de onde a COVID-10 é endêmica ou quase endêmica ao mundo desenvolvido. “Sou mais cauteloso com o mundo em desenvolvimento, porque nosso sistema de vigilância não é tão bom”, disse ele. Ele acrescentou uma ressalva ao seu entusiasmo endêmico, admitindo que uma nova variante altamente virulenta, que possa resistir às vacinas atuais, poderia torpedear o status endêmico.

Sem picos enormes

“Vou dizer que somos endêmicos”, disse o Dr. Dennis Cunningham, diretor médico do sistema de prevenção de infecções do Sistema de Saúde Henry Ford em Detroit. “Estou usando a definição de que sabemos que há doença na população. Ela ocorre regularmente em uma taxa consistente. Em Michigan, não estamos mais tendo esses grandes picos de casos”, disse ele.

Cunningham disse que, embora as mortes por COVID-19 sejam perturbadoras, “eu diria que as doenças cardiovasculares são endêmicas neste país, e temos muito mais do que algumas centenas de mortes por dia por causa disso”.

Ele também observou que as vacinas resultaram em altos níveis de controle da doença em termos de redução de internações e mortes. A discussão realmente se torna um argumento acadêmico, disse Cunningham. “Mesmo que o chamemos de endêmico, ainda é um vírus grave, que ainda está realmente pressionando muito nosso sistema de saúde”.

Não tão rápido

Mas nem todo mundo está pronto para ir na onda como “endêmica”.

O Dr. Stuart Ray, professor de medicina na Divisão de Doenças Infecciosas da Escola de Medicina Johns Hopkins, em Baltimore, disse que qualquer designação endêmica seria específica para uma determinada área. “Não temos muitas informações sobre o que está acontecendo na China, então não sei se podemos dizer em que estado eles estão, por exemplo”, disse ele.

As informações nos EUA também estão incompletas, disse Ray, observando que, embora os testes em casa nos EUA tenham sido uma ótima ferramenta, isso dificultou a contagem de casos reais. “Nossa visibilidade sobre o número de infecções nos Estados Unidos foi, compreensivelmente, prejudicada pelos testes em casa. Temos que usar outros meios para entender o que está acontecendo com a COVID-19”, disse ele. “Existem pessoas com infecções que não conhecemos, e algo dessa dinâmica pode nos surpreender”, disse ele. Há também um número crescente de jovens que ainda não teve COVID-19 e, com baixas taxas de vacinação entre os jovens, “podemos ver picos de infecções novamente”, admite Ray.

Por que ainda nenhuma declaração oficial de fase endêmica?

Alguns questionam por que endemia não foi declarada pela OMS ou CDC. Ray disse que as autoridades de saúde tendem a declarar emergências, mas são mais lentas para fazer declarações de que uma emergência terminou, se é que o fazem.

O presidente Joe Biden, definiu o 11 de maio, como o fim da declaração de emergência da COVID-19 nos EUA, após estender o prazo várias vezes. O estado de emergência permitiu que milhões recebessem testes, vacinas e tratamentos gratuitos.

Ray disse que só saberemos verdadeiramente quando a endemia começar retrospectivamente. “Assim como acho que vamos olhar para trás em 9 de março, e dizer que Baltimore está fora do inverno. Mas pode haver uma tempestade que vai me surpreender”, disse ele.

Não há tempo suficiente para saber

A epidemiologista Dra. Katelyn Jetelina, diretora de análise de saúde populacional do Meadows Mental Health Policy Institute em Dallas, e consultora científica sênior do CDC, disse que não tivemos tempo suficiente com a COVID-19 para chamá-la de endêmica.

Para a gripe, disse ela, que é endêmica, “é previsível e sabemos quando teremos ondas”. Mas a COVID-19 tem muitas incógnitas, disse ela. O que sabemos é que passar para endêmica não significa o fim do sofrimento, disse Jetelina. “Vemos isso com a malária, com a tuberculose e com a gripe. Haverá sofrimento”, disse ela.

As expectativas do público para tolerar doenças e morte pela COVID-19 ainda são amplamente debatidas. “Não temos uma métrica para o que é um nível aceitável de mortalidade para uma endemia. É definido mais por nossa cultura e nossos valores, e acabamos por aceitar”, disse ela. “É por isso que estamos vendo esse cabo de guerra entre urgência e normalidade. Estamos decidindo onde colocar o SARS-CoV-2 em nosso repertório de ameaças.”

Ela disse que nos EUA, as pessoas não sabem como serão essas ondas, se serão sazonais ou se as pessoas podem esperar uma onda de verão no sul novamente, ou se uma outra variante de preocupação surgirá do nada.

“Posso ver um futuro, em que a COVID-19 não seja grande coisa em certos países que têm uma imunidade tão alta por meio de vacinas, e em outros lugares onde continua sendo uma crise de saúde pública. “Todos esperamos estar avançando para a fase endêmica, mas quem sabe? O SARS-CoV-2 me ensinou a abordá-lo com humildade”, disse Jetelina. “Em última análise, não sabemos o que vai acontecer.”

Referente ao artigo publicado em Medscape Pulmonary Medicine.

 

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