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Dorômetro

A dor é um sublime caminho de evolução. O medidor da sua real intensidade não existe, nem nunca existirá. Decerto, porém, há algumas circunstâncias, onde acreditamos que uma dor específica parece ser mais severa que outras. Shakespeare afirma numa de suas reflexivas mensagens que: “todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente”. Quando eu era mais jovem, migrando na adultice da adolescência, estudava a mente; e imaginava ser capaz de tolerar até mesmo a morte de alguém da minha familia. Tinha uma vasta ilusão e a fictícia imaginação de um experiente ser, sem sê-lo. Um projétil que atravessou o rosto do meu avô vindo de um andor cheio de maldade, pela dor e pela morte que causou, mostrou para mim de maneira mais robusta e agressiva possível, que o dorômetro, ali se manifestava num limite superior. Nesse início, se intensificou minha trajetória para entender o fim. Aprendamos o que nossa mente responde, o que a ignorância esconde, e tudo que a vida nos ensina. Na subjetividade da dor fisica rememoro a escada analgésica da OMS, com seus degraus e limites; e na escala do sofrer psiquico, recordo a dor que não tem índice registrador.

 

Cada dor é única, irrepetivel, irreparável, intransferível, e indescritível. Cada pessoa a tem de acordo com o momento que vive, com as influências familiares que convive, e com as circunstâncias que vêm, e vê pela frente (com ou sem, razão e emoção). A experiência, filha do tempo, que nos ensina a sermos articuladores de nossas próprias vidas é algo que precisamos alimentar em nossas caminhadas. O consolo da dor parece ser restaurado pelo conhecimento e pelo tempo (ainda que para muitos, aparente que esse tempo adiante jamais chegará). Outro detalhe interessante é que, o movimento é um aliado do tempo, e a estagnação torna-se um inimigo. O tipo de dor relacionado ao luto que estaciona no psiquismo (seja pela morte, ou por outro algo qualquer que morre dentro de nós enquanto estamos vivos), se dilui, atenua, ou ameniza na mente que pensa, que se solidariza, que se coloca na posição alheia, que filtra o alento do amor, que incorpora em si tentar entender o pesar que não se entende. “A dor que dói em mim dói muito eu juro; dói mais a dor do meu amigo quando eu não curo” – meu sogro disse essa meditação uma semana antes de partir para a estrada da eternidade – com sua humanidade, valor, essência, amor, e nobre humildade.

 

Tem medida a dor do pai que perde um filho? Tem medida a dor do arrependimento e da culpa que castiga a mente? Tem limites, de maior ou menor intensidade, a dor ou a pena, de ver a morte chegar por perto? Quanto pesa a dor de um suicida, e de quem o perde? Tem possibilidade de se dimensionar a dor que acontece na privação ou na associada provação? A que se exacerba ainda mais, regada com outras que chegam de mansinho, ou sem aviso prévio de sua chegada? Mensurar a dor – dorômetro, dosômetro, ou qualquer instrumento para medir o termômetro da emoção não existe. Ela passeia e vagueia na mente sem pedir licença ou permissão; sem agradecer ela nos engrandece na nossa capacidade de entendê-la, e de aceitar nossa missão; e sem escolhas ou pedidos, nos posiciona na relva ou na encruzilhada da decisão. As pessoas são diferentes, felizmente. Precisamos continuar avantes; fazendo a vida valer a pena, com dor e amor; mesmo sem compreendê-la em muitos instantes. Dorômetro – eu escondi o meu, no mais profundo abismo enigmático do inconsciente. Onde, e como está o seu?

 

 

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