fbpx

Estudo ‘ousado’ que contaminou as pessoas com COVID-19,revela o fenômeno ‘superdisseminador’

Um estudo de pessoas que foram infectadas intencionalmente com SARS-CoV-2, forneceu uma riqueza de informações sobre a transmissão viral, mostrando, por exemplo, que um grupo seleto de pessoas são ‘super-transmissores’ ou ‘super-disseminadores’, que expelem muito mais vírus no ar do que outros.

A publicação descreve dados de um controverso ‘estudo de desafio’, no qual cientistas infectaram deliberadamente voluntários com o vírus que causa a COVID-19. Embora a abordagem tenha atraído oposição, o trabalho agora produziu dados sobre questões centrais para a saúde pública, como a gravidade dos sintomas se correlaciona com o quão contagiosas as pessoas são; e se os testes caseiros de COVID-19,podem desempenhar um papel na redução da propagação viral.

 

Os resultados destacam, como a gravidade e o contágio da doença variam de forma ampla e imprevisível entre as pessoas. “E é essa variabilidade entre os humanos que tornou esse vírus tão difícil de controlar”, diz a médica infectologista Monica Gandhi, da Universidade da Califórnia, em San Francisco, que não participou do trabalho. O estudo, publicado em 9 de junho no Lancet Microbe, também sugere que a fisiologia humana, não o vírus, é a culpada por parte da inconsistência da COVID-19.

 

Projeto com benefícios
Os estudos de desafio são “muito ousados”, diz Gandhi. Algumas pessoas argumentam que não é ético, transmitir às pessoas uma infecção que pode causar doenças graves, mas o projeto de pesquisa traz benefícios. Os estudos de desafio podem acelerar substancialmente os testes de vacinas, e são a única maneira de entender certos aspectos da COVID-19, como o estágio antes das pessoas testarem positivo ou desenvolverem sintomas.

Os pesquisadores inocularam 34 participantes jovens saudáveis,esguichando uma quantidade conhecida de partículas virais em seus narizes. Dezoito desenvolveram infecções e passaram pelo menos 14 dias confinados em quartos de hospital. Todos os dias, os pesquisadores mediram os níveis virais no nariz e na garganta dos participantes, no ar e nas mãos dos participantes, e em várias superfícies das salas.

 

Os sintomas e a gravidade da COVID-19 adquiridanaturalmente podem variar dependendo da via de transmissão, da cepa viral e de quanto vírus uma pessoa foi exposta. Mas no estudo de desafio, “sabemos que tudo foi controlado”, diz a pesquisadora de doenças infecciosas Anika Singanayagam, do Imperial College London, coautora do artigo.

 

Dos 18 participantes que desenvolveram infecções, 2 eliminaram 86% do vírus transmitido pelo ar detectado ao longo de todo o estudo,embora ambos apresentassem apenas sintomas leves. Pesquisas anteriores forneceram evidências da existência de superespalhadores,que infectam um grande número de pessoas. Mas se essas pessoas também são ‘superespalhadores’ que emitem grandes quantidades de vírus, ou simplesmente têm muitos contatos sociais, está em debate, diz o ecologista de doenças Pablo Beldomenico do Instituto de Ciências Veterinárias da Costa em Esperanza, Argentina. Este estudo “suporta a existência de superespalhadores”, diz ele.

Testes rápidos mostram seu valor

Os participantes usaram testes de fluxo lateral, também conhecidos como testes rápidos de antígeno, em cada dia em que estavam isolados. Nenhum dos participantes emitiu um nível detectável de vírus no ar antes de testar positivo, e apenas uma pequena proporção deles deixou o vírus detectável em suas mãos, superfícies ou máscaras, que usaram temporariamente.

 

No momento em que testaram positivo, a maioria dos participantes já apresentava sintomas leves, como cansaço ou dores musculares. Isso significa que, se as pessoas fizerem o teste assim que detectarem os sintomas, os testes rápidos “podem ser uma ferramenta poderosa” para controlar a propagação viral, diz o pesquisador de doenças infecciosas Christopher Brooke, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign.

 

Alguns pesquisadores questionam a relevância dos resultados do estudo, para o mundo de hoje. A rota da infecção, gotas administradas pelo nariz, difere da maioria das infecções naturais, diz o pesquisador de doenças infecciosas transmitidas pelo ar, Dr. Donald Milton, da Universidade de Maryland em College Park. Como resultado, o derramamento viral pode diferir entre os participantes do estudo, e as pessoas infectadas no mundo real. A agora dominante variante Omicron,também se espalha de forma diferente da cepa 2020, que os pesquisadores usaram, acrescenta seu colega Kristen Coleman.

 

Apesar dessas limitações, o trabalho “ainda nos fornece informações realmente úteis”, diz Singanayagam, acrescentando que os resultados estão de acordo com o que ela e seus colegas observaram,com infecções adquiridas naturalmente. A equipe planeja realizar estudos de desafio semelhantes com variantes mais recentes.

Referente ao artigo publicado em Nature

 

 

Este post já foi lido506 times!

Compartilhe esse conteúdo:

WhatsApp
Telegram
Facebook

You must be logged in to post a comment Login

Acesse GRATUITO nossas revistas

Send this to a friend