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O arco-íris grisalho: precisamos de cuidados inclusivos para pessoas LGBTQ+ mais idosas

Certa manhã, eu estava conversando com um clínico geral em um pequeno consultório. Um homem mais velho entrou, seguido por outro que se apresentou como amigo. O paciente estava em visita após uma internação hospitalar recente. Ao expressar seu medo pela deterioração de sua saúde, ele se voltou momentaneamente para seu companheiro. Seu amigo estendeu a mão como se fosse pegar a mão do paciente, mas se conteve e recostou-se na cadeira sem fazer contato. Depois de partirem, o clínico geral explicou que os dois homens viviam juntos há décadas e mal se separavam desde o início da doença, mas sempre disseram que eram apenas bons amigos.

Esta experiência levou-me a considerar os problemas que os pacientes LGBTQ+ mais idosos enfrentam hoje. Alguns ainda relatam discriminação direta e homofobia, encontradas em todos os níveis de tratamento por parte dos profissionais de saúde e de assistência social. Muitos mais são desencorajados de procurar cuidados, devido a um legado de discriminação nos ambientes de saúde e na sociedade em geral, tendo vivido tempos em que a sua sexualidade foi criminalizada ou considerada uma doença mental.

Uma grande preocupação de muitas pessoas LGBTQ+ idosas é a falta de acesso a apoio social inclusivo. Aqueles que não têm filhos ou que estão afastados da família, podem ter menos acesso ao apoio informal na comunidade do que a maioria das pessoas, pelo que é mais provável que dependam de serviços formais de apoio para cuidados, à medida que envelhecem. Uma pesquisa entre pessoas LGBTQ+ mais velhas descobriu,que elas esperavam por espaços dedicados, como lares de idosos LGBTQ+, onde sentiriam companheirismo com outros residentes e seriam protegidos do preconceito.

Outra questão importante para estes pacientes, é que os seus parceiros do mesmo sexo são frequentemente ignorados ou considerados parentes mais próximos. A linguagem usada pelos casais LGBTQ+ mais velhos pode ser menos específica, ou podem usar eufemismos como “bom amigo” ou “companheiro” em vez de “parceiro”.

Usar palavras com as quais as pessoas se sintam confortáveis é importante, e não devemos forçar as pessoas a revelar relacionamentos. Mas esclarecer com quem o paciente deseja que sua equipe médica se comunique, deve ser sempre uma prioridade. Isto é importante para ajudar a evitar casos como os descritos numa entrevista à Age UK, onde um homem gay mais velho contou, como raramente tinha tempo a sós com o seuparceir, por parte dos funcionários do lar de idosos. Quando seu parceiro ficou doente e foi levado às pressas para o hospital, a casa de repouso não o contatou. Em suas palavras: “O homem que amo poderia ter morrido e eu não estaria lá nem saberia”.

Políticas públicas e contribuições

Perguntar sobre a sexualidade de alguém pode parecer agressivo, por isso é comum descobrir que “heterossexual” é considerado o padrão para pessoas mais velhas. Uma colega minha, ao preencher um formulário de monitorização da igualdade e da diversidade para um encaminhamento para um hospício, perguntou a uma senhora de 90 anos como ela descreveria a sua orientação sexual. “Eu sou normal, querida”, respondeu a paciente, parecendo um pouco confusa.

Precisamos chegar a um lugar onde “normal” não seja mais sinônimo de heterossexual. Já são utilizados pequenos gestos para promover a inclusão, como pulseiras de arco-íris e crachás. Mas é necessária mais educação para os estudantes e para os profissionais de saúde e de assistência social, incluindo especificamente as necessidades das pessoas LGBTQ+ idosas.

Para tornar o sistema nacional de saúde britânico um local mais seguro para estes pacientes, precisamos de capacitar o pessoal a todos os níveis para desafiar a homofobia no trabalho, e garantir que as preocupações são ouvidas e tomadas medidas. As políticas devem ser concebidas para levar a sério a discriminação homofóbica e transfóbica, com a contribuição dos utilizadores de serviços LGBTQ+, e estas devem ser aplicadas de forma consistente. Mensagens e materiais de saúde que incluam casais mais velhos do mesmo sexo ajudarão a reforçar a mensagem de que são bem-vindos a aceder aos serviços, tal como acontece com a utilização de uma linguagem aberta, em vez de assumir que as pessoas são heterossexuais.

Deve-se também pensar, se os casais do mesmo sexo, têm o mesmo tempo privado que os casais heterossexuais, enquanto estão no hospital, bem como a forma como os funcionários podem garantir que as enfermarias sejam locais seguros para demonstrar afeto e passar tempo de qualidade com os entes queridos. Mais importante ainda, precisamos ouvir com mais atenção, o que os pacientes nos dizem sobre si próprios e as suas relações, e precisamos encontrar formas práticas de garantir que estas sejam valorizadas e respeitadas.

 

Referente ao artigo publicado em British Medical Journal

 

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