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O Glaucoma nas mulheres

O glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo e resulta na destruição do nervo óptico, acarretando déficits de campo visual e perda visual permanente. A pressão intraocular (PIO) é o único fator de risco modificável conhecido no glaucoma. Os fatores de risco não modificáveis incluem idade, etnia, espessura central da córnea e histórico familiar. Embora a nossa compreensão do papel do gênero, como fator de risco, no desenvolvimento e progressão do glaucoma, permaneça incipiente, pesquisas mostraram diferenças entre os sexos, na prevalência desta doença.

 

O tipo com ângulo fechado afeta, aproximadamente, 26% da população mundial com glaucoma; no entanto, diante da gravidade, este tipo é responsável por quase metade dos casos de cegueira relacionada a esta patologia. Os estudos populacionais demonstraram que o risco deste tipo, entre as mulheres, é três vezes maior do que nos homens. Isto, provavelmente, é o resultado de diferenças anatômicas e mecânicas entre os olhos masculinos e femininos, tornando os olhos das mulheres mais propensos ao glaucoma agudo de ângulo fechado (profundidade da câmara anterior e comprimento axial muito menores nas mulheres). A prevalência, entre as mulheres, também depende da expectativa de vida relativa, uma vez que este tipo de glaucoma é, principalmente, uma doença dos idosos.

 

O tipo com ângulo aberto é o mais frequente na população, com os estudos demonstrando uma prevalência equivalente entre homens e mulheres. Entretanto, o sexo feminino demonstra diferenças na evolução desta patologia, como, por exemplo, a gravidez, que leva a alterações na PIO, enquanto o tratamento deve ser adaptado, com base nos efeitos sistêmicos da terapêutica tópica, na mãe e no feto. Vários investigadores documentaram PIO mais baixa durante a gestação, levantando a hipótese de que níveis elevados de progesterona, e uma maior facilidade de fluxo do humor aquoso, poderiam ajudar na redução da PIO.

 

Até o momento, foi estudado o papel dos hormônios femininos em relação à catarata, à degeneração macular relacionada à idade, à retinopatia diabética e à síndrome do olho seco. Recentemente, o estudo de Rotterdam relatou um risco, significativamente, reduzido de glaucoma de ângulo aberto em mulheres, associado a uma maior duração da exposição ao estrogênio endógeno. Entretanto, outros estudos não encontraram confirmação nesta relação significativa. Estudos experimentais apoiaram um papel protetor dos hormônios sexuais femininos, particularmente o estrogênio, no desenvolvimento do glaucoma crônico de ângulo aberto. Os receptores de estrogênio foram localizados nas retinas de animais e em olhos humanos. Após a ativação deste receptor, ocorre o aumento da atividade da óxido nítrico sintase tipo 3, de base endotelial, com a resultante liberação local de óxido nítrico vasodilatador. A redução da resistência vascular, associada ao uso de estrogênio, também foi documentada. Tendo em vista a isquemia ocular, e o aumento da resistência vascular, como fatores envolvidos na patogênese do glaucoma, essas características são de particular interesse. A redução da PIO, modulada pelo óxido nítrico, através de alterações na resistência ao fluxo aquoso na rede trabecular, também foi postulada. Estudos longitudinais são necessários para examinar melhor as relações entre os fatores reprodutivos e o risco para o glaucoma crônico de ângulo aberto. Diante da complexidade desta doença, e de sua natureza assintomática, destaca-se a importância de um diagnóstico precoce, somente possível com uma avaliação com o médico oftalmologista.

 

 

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